Graduações experimentais duplicam com EaD – 28/04/2025 – O melhor de São Paulo

O número de graduações experimentais praticamente dobrou no Brasil nos últimos anos, segundo dados do Cadastro Nacional de Cursos e Instituições de Educação Superior do Ministério da Educação (Cadastro e-MEC). Dos 4.469 cursos experimentais oferecidos em instituições de ensino superior (IES), 48,9% foram criados entre 2018 e 2025.
Os cursos experimentais se diferenciam por incorporar inovações aos seus projetos pedagógicos e ao perfil profissional dos egressos, buscando atender a novas demandas do mercado de trabalho.
Não se trata de uma categoria específica. Na prática, um curso recebe essa classificação quando seu currículo não se encaixa em qualquer diretriz curricular nacional (DCNs), do CNE (Conselho Nacional de Educação), ou no Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia (CNCST), do MEC (Ministério da Educação). Mesmo assim, os cursos experimentais são plenamente válidos.
Desde 2018, foram criados 2.183 cursos experimentais, com 594 denominações diferentes. As instituições privadas oferecem 84% deles. Só as IES com fins lucrativos respondem por 58%.
Dois em cada três cursos são tecnólogos, formações voltadas a conhecimentos práticos e habilidades específicas em áreas de tecnologia, com duração média de 2 a 3 anos. Alguns exemplos comuns de cursos experimentais desse tipo são ciência de dados e inteligência artificial.
A educação a distância (EaD) também predomina nesse cenário, compreendendo 65% dos cursos experimentais criados no período, como os de empreendedorismo e mediação.
Pouco mais da metade (1.114 cursos) congrega as três características: tecnólogos EaD oferecidos em instituições privadas, principalmente IES com fins lucrativos (873 cursos). Nesse caso, o curso mais comum é marketing digital.
Elisabeth Balbachevsky, professora do Departamento de Ciência Política da USP (Universidade de São Paulo), explica que há duas dinâmicas diferentes por trás desses números. “De um lado, há um claro investimento dos grandes conglomerados educacionais para explorar alternativas de formação que saem do desenho mais tradicional das profissões ‘imperiais’ [direito, medicina e engenharia]. Por outro lado, o setor privado atende um público que a universidade pública nunca conseguiu atender.”
Ela explica que o perfil mediano de alunos de IES privadas é de “estudantes mais velhos, profundamente dentro do mercado de trabalho, no qual ingressaram com a sua capacidade bruta de trabalho [em ocupações de baixa qualificação], com responsabilidades familiares, e que por isso estão procurando alternativas [de formação mais rápida] no mercado [educacional privado]”.
Celso Niskier, diretor-presidente da ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior) e conselheiro do CNE, ressalta o papel da educação a distância na inclusão educacional. “A predominância da modalidade EaD está ligada à acessibilidade, capilaridade e flexibilidade. As IES privadas utilizam essa modalidade para alcançar estudantes em diferentes regiões do país e permitir que profissionais já inseridos no mercado conciliem estudo e trabalho.”
Mudanças na legislação que regula o ensino superior no Brasil também contribuíram para o aumento de cursos experimentais. Segundo Niskier, “a possibilidade de criação de novos cursos ganhou força com o Decreto 9.057/2017, que regulamentou a educação a distância e conferiu maior flexibilidade para a estruturação de graduações”.
A avaliação desses cursos ainda gera discordâncias. Niskier explica que “o próprio MEC monitora essa expansão [de cursos experimentais] por meio do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) e do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), garantindo que a inovação curricular ocorra com qualidade e dentro dos padrões exigidos”.
Balbachevsky diverge, apontando que os instrumentos de avaliação do MEC são limitados. “Não há garantia de que esses cursos sejam bons. E o modelo de avaliação que há no Brasil não dá qualquer garantia de qualidade.”
Segundo a professora, continuará havendo espaço no mercado para uma formação mais robusta, resultando em uma colocação diferenciada. Especialmente, diz, porque as instituições de maior prestígio (públicas e privadas) operam como um filtro de seleção para empresas. Mas essa alternativa está fora do horizonte da maior parte da população.
O setor público teria se acomodado na estratégia de atender proporcionalmente poucos estudantes, selecionados em processos altamente competitivos. “Por mais que tenha havido políticas de inclusão e de acesso [ao ensino superior público], elas não são políticas de inclusão de fato. São políticas de diversificação da elite. A universidade pública continua sendo o ápice de uma estrutura de ensino superior extremamente hierarquizada”, avalia Balbachevsky.